Cair nas garras de homem narcisista é antes de tudo cair nas mãos de uma pessoa que demonstrava segurança, respeito, coragem e lealdade associadas a momentos mágicos de prazer sexual ou afetivo. E isto pouco importa se essa pessoa é homem ou mulher, se a relação é hétero afetiva ou homoafetiva. Na verdade, pouco importa inclusive se você é uma mulher ou um homem.
Neste artigo, o advogado Lunay Costa irá tratar mais especificamente da mulher codependente que irá se relacionar com homem narcisista, mas você pode facilmente levar os mesmos apontamentos para outros gêneros e relações afetivas.
O que é Codependência Afetiva?
Pessoas codependentes são pessoas que, antes de mais nada, entram em uma relação de dependência afetiva ou comportamental de outra pessoa, todavia, será necessário que esta outra pessoa também dependa emocional ou comportalmente de outro.
Oras, pessoas com Transtorno de Personalidade Narcisista dependem de outros para lhes validarem seu valor, sua autoestima, alimentem seu senso de grandeza ou inteligência irrealísticos. Logo, Narcisistas Patológicos são dependentes.
Pessoas com Transtorno de Personalidade Borderline também, assim como histriônicos. São transtornos que por causa de seus esquemas de enfrentamento às próprias dores buscam no outro uma forma de existirem em si mesmos. Os Borderlines precisam de alguém que lhes dê estabilidade emocional, regule suas emoções, procure ser um porto-seguro contra seus pavores de abandono ou rejeição reais ou imaginários. Já as pessoas histriônicas precisam de alguém que lhes sirva de validação aos seus dramas e paixões irreais. Todos eles dependem de alguém.
Perceba, portanto, que , no fundo, na codependência afetiva haverá o encontro de uma pessoa dependente com outra pessoa dependente afetivamente ou comportamentalmente.
São 2 metades da laranja, são “almas gêmeas”, são duas pessoas incompletas que se completam em uma dança macabra como diz o professor de psicologia Sam Vacknin ou o Tango da Morte como diz o professor Ross Rosemberg.
É aqui que está o maior problema.
Pessoas narcisistas ou com transtorno de personalidade muito raramente estão conscientes de seus esquemas de enfrentamento dentro de suas próprias personalidades, daí quando encontram outra pessoa também inconsciente sobre seus esquemas de enfrentamento das próprias dores, o problema nasce.
A Verdadeira Raiz da Codependência: a falta de amor próprio, a culpa e a vergonha
O termo condependência em si mesmo não explica quase nada sobre as raízes do problema, não raro apenas deixando claro as consequência dessa dor.
O tal codependente sente em si uma dor de vergonha, culpa, medo sobre o próprio valor. Eles não se sentem vazios como os Borderline, nem se sentem perfeitos feito os narcisistas, na realidade, acham que vieram ao mundo com a missão de curar, de ajudar, de servir.
Oras, o tal codependente não tem fronteiras bem estabelecidas sobre o que é ser abusado ou explorado por alguém, sente profundas dificuldades em se impor quando desrespeitado ou quando claramente manipulado. No fundo, o mecanismo narcísico natural de qualquer ser humano saudável não se aplica de saudável ao tal codependente. Codepententes não amam a si mesmos.
É por este motivo que o psicólogo Ross Rosemberg em seu livro A Síndrome do Magnetismo Humano atribui outro nome ao tal da Codependência, ele chama de Síndrome da Falta de Amor Próprio. Particularmente, prefiro rotular o fenômeno como Transtorno do Espectro da Insuficiência Autovalorativa Baseada em Vergonha e Culpa de Si Mesmo. Nome grande, não é?
Veja o porquê!
Não existem “codependentes” iguais, mas os sintomas são sempre os mesmos. Há aqueles mais leves e há aqueles mais graves. Portanto há um espectro assim como no Autismo. É um transtorno por causa perturbação na vida saudável de seus portadores. E é a partir daqui que as coisas ganham novo peso.
Há uma deficiência na forma como o indivíduo se auto avalia, atribui valor a si mesmo, pois a culpa e a vergonha fazem parte de uma “voz” em suas cabeças ditas por outras pessoas com tanta força que eles acreditam nisso.
Não raro, os tais codependentes foram criados por pais ou cuidadores primários que foram abusivos, violentos ou intrusivos. Muitas vezes foram criados por pais com esquemas semelhantes aos narcisistas.
O “codependente” jamais esteve à altura das expectativas dos outros, nunca o que ele fazia era o suficiente, era preciso ser um serviçal para um dos pais de caráter narcisista, borderline, histriônico, psicopata ou de alta demanda de ação.
O maior problema é que este esquema de enfrentamento, ou seja, estratégia de sobrevivência aprendido ao longo de uma vida infantil será levada para os relacionamentos pessoais, íntimos ou de ambiente de trabalho.
A mulher codependente e o homem narcisista
Agora que você chegou até aqui nesta leitura, já deve ter percebido que uma mulher com falta de amor próprio, que sinta culpa e vergonha de si mesma, insegura, ao encontrar um homem com aparência de segurança, inteligência, dominância, charme, carinho e amor e lealdade se sentirá derretida por ele.
Se por um lado o homem narcisista precisa dessa nova adoradora, a própria adoradora precisa encontrar alguém que lhe alivie a culpa, a vergonha, que a faça se sentir amada, respeitada. O professor Sam Vacknin explica que o narcisista permite à sua vítima se sentir, pela primeira vez na vida, amando a si mesma. E isto é viciante.
A melhor forma de se vacinar contra homens narcisistas não está no narcisista em si mesmo, mas sim em reconhecer a si própria que é codependente, ou seja, possui a falta de amor próprio.
É preciso conscientemente abandonar relacionamentos por um tempo, dedicar-se a construir um histórico de sucesso pessoal e auto-responsabilidade, auto-carinho, auto-cuidado, de criação e respeito de fronteiras próprias, construir um histórico de vida egoísta. Sim, egoísta, pois foi a falta desse egoísmo que permitiu ser transformada em escrava da vontade dos outros.
E qual é o limite desse egoísmo? Simples, o próprio narcisismo patológico.
Não raro, pessoas com codependência se sentem culpadas ao se priorizarem, pois jamais fizeram isso em suas vidas.
Homens narcisistas irão buscar testar os limites para saber se estão lidando com adoradores codependentes, irão testar as fronteiras, irão abusar aos poucos e quando receberem adoração necessária à sua personalidade doentia, irão continuar a explorar outras pessoas.
Como a mulher codependente deve lidar com o narcisista na Justiça
“Sou um advogado, não um psicólogo”, como diria um de meus personagens preferidos em Jornada Nas Estrelas, o Dr. McCoy. Mesmo assim, é preciso que eu entenda um pouco de psicologia, pois já me cansei de ver clientes minhas destruindo seus processos por causa de homens narcisistas.
O homem narcisista irá tentar seduzir para tirar a Medida Protetiva. Ele irá seduzir para evitar que sua imagem seja exposta. Ele irá fazer de tudo para fazer a mulher parecer louca, mentirosa, estranha. Ele a fará entrar em contradição e descrédito através de comportamentos induzidos por ele mesmo.
A mulher codependente é 100% uma das melhores presas deste tipo de homem, pois ela foi programada desde a infância a ser escrava e deseja ser amada, mas não sabe como. Ela confunde o jeito do narcisista com amor, afinal ele segue muito de perto o mesmo padrão que ela recebeu de um pai ou de uma mãe, ou de uma aspiração infantil antiga dela.
É por isso que a mulher deve cortar laços, bloquear, não entrar em contato com o homem narcisista. Ela deve dedicar sua vida e esforços a si mesma, se possível mudar de apartamento, de casa, sair da companhia de pais ou irmãos, ela deve buscar a própria história. É óbvio que irá assustar, talvez haverá medo ou inseguranças, mas isso irá existir até ela descobrir que já nasceu com asas, basta apenas voar como uma águia.
Sem o contato com o homem narcisista, ela deve ouvir seu advogado, seguir suas orientações em direito criminal ou de família e obter o que ela tem de direito.
Uma dica importante e final é que ela procure criar uma rede de amizades positivas, animadoras e que incentive ao crescimento, ou seja, uma rede de apoio realmente poderosa para nunca mais cair nas garras de um homem falso e narcisista patológico.