No canal do YouTube “The Jolly Heretic”, Edward Dutton, conhecido por explorar temas controversos, recebe novamente o Professor Sam Vaknin, especialista em transtornos de personalidade, para uma discussão profunda sobre o Transtorno de Personalidade Borderline (TPB). Como advogado que lida frequentemente com casos envolvendo conflitos familiares e relações tóxicas, achei essa conversa extremamente relevante para entender melhor o comportamento de pessoas com TPB, especialmente no contexto de litígios envolvendo falsas acusações e dinâmicas familiares.
O que é o Transtorno de Personalidade Borderline?
Sam Vaknin começa definindo o TPB não de maneira técnica, mas focando em suas características centrais. Ele explica que uma das principais marcas do transtorno é a inconstância objetal, ou seja, a dificuldade que essas pessoas têm em criar representações internas estáveis das pessoas ao seu redor. Em outras palavras, elas têm dificuldades em ver os outros de maneira consistente. Um dia, a pessoa pode ser vista como boa, no outro, como ruim – tudo depende do momento e das emoções.
Outro ponto que Vaknin destaca é o conflito na autopercepção dos indivíduos com TPB. Eles se enxergam como boas pessoas, mas frequentemente agem de maneiras que contradizem essa visão. Para lidar com essa dissonância, muitas vezes se colocam no papel de vítimas das circunstâncias. Como advogado, já vi essa dinâmica de perto, onde pessoas com TPB justificam seus comportamentos prejudiciais alegando ter sido levadas a isso por fatores externos.
Ansiedade de Abandono e Engolfamento
Uma das partes mais fascinantes da entrevista é quando Vaknin fala sobre as ansiedades gêmeas que regem as emoções dos borderlines: o medo de abandono e o medo de serem “engolidos” pelo parceiro ou pessoa próxima. Eles vivem em um ciclo de “aproximação e afastamento”, onde, ao mesmo tempo que querem se conectar profundamente com alguém, temem perder sua identidade nessa relação.
Esse ciclo gera conflitos constantes nos relacionamentos e, muitas vezes, é um fator importante em processos litigiosos de divórcio ou guarda, onde um dos cônjuges ou pais pode apresentar esse tipo de comportamento. Como Vaknin explica, é comum que o borderline idealize a pessoa amada no começo, tratando-a como perfeita, apenas para depois desvalorizá-la quando sente que está perdendo o controle da situação.
A Desregulação Emocional e a Busca por um “Regulador Externo”
Sam Vaknin também fala sobre a desregulação emocional que define o TPB. Indivíduos com esse transtorno têm dificuldades em controlar suas emoções, o que leva a mudanças bruscas de humor e comportamentos impulsivos. Como solução, eles procuram um “regulador externo” – um parceiro ou amigo que possa estabilizar suas emoções.
Muitas vezes, essa dinâmica surge nos conflitos conjugais que presencio. A pessoa com TPB projeta no parceiro a responsabilidade de regular suas emoções, o que pode levar a uma relação de codependência tóxica. Quando esse “regulador” não cumpre suas expectativas, o ciclo de desvalorização e idealização recomeça.
Fatores Genéticos e Traumas na Infância
Outro aspecto interessante abordado por Vaknin é o componente hereditário e ambiental do TPB. Ele menciona que pessoas com parentes próximos diagnosticados com TPB têm cinco vezes mais chances de desenvolver o transtorno. Além disso, traumas na infância, como rejeição parental ou abuso, são fatores que podem desencadear o transtorno.
Como advogado de família, muitas vezes lido com casos em que o histórico de traumas psicológicos tem impacto direto no comportamento das partes envolvidas. A compreensão dessa dinâmica ajuda a contextualizar melhor as ações de uma pessoa durante um litígio e as razões que podem estar por trás de comportamentos aparentemente irracionais.
A Relação Complexa com Narcisistas
Um dos pontos altos da conversa é quando Vaknin explora a relação entre pessoas com TPB e narcisistas. Ele explica que borderlines são atraídos por narcisistas, pois enxergam neles uma fonte de estabilidade e controle emocional. Em troca, o narcisista se beneficia da idealização que o borderline oferece, reforçando sua grandiosidade. Essa dinâmica é, segundo Vaknin, “um casamento feito no inferno” – uma relação codependente que, apesar de parecer perfeita no início, é destrutiva para ambos.
Para aqueles que lidam com conflitos familiares complexos, como divórcios litigiosos ou disputas de guarda, essa informação é crucial. Muitas vezes, vemos relações que se baseiam nesse ciclo de idealização e destruição mútua, o que torna o processo judicial ainda mais conturbado.
Conclusão: O Transtorno de Personalidade Borderline na Prática Jurídica
A entrevista com Sam Vaknin oferece insights valiosos sobre como o TPB afeta as relações interpessoais e como essas dinâmicas frequentemente aparecem em conflitos legais. Como advogado especializado em direito familiar, acredito que entender os mecanismos internos do TPB – como a desregulação emocional, o ciclo de idealização/desvalorização e a busca por regulação externa – é essencial para lidar com casos envolvendo pessoas com esse transtorno.
Além disso, a compreensão da relação entre borderlines e narcisistas pode ser especialmente útil para avaliar a dinâmica entre as partes em um litígio. Se você se interessa por temas como psicologia e direito de família, recomendo assistir a essa entrevista, pois ela traz uma visão ampla e profunda sobre o transtorno e como ele impacta não só as relações pessoais, mas também os conflitos judiciais.
Segue o Vídeo Original.